Escrito por Manoel Lisboa de Moura aos 21 anos de idade em agosto de 1965, quando foi preso pelos militares fascistas.
“Em todo o mundo, os povos oprimidos despertam para a sua libertação. O
século XX tem sido clareado pelo relampejar das idéias novas na
consciência das massas populares, determinando, desta forma, uma luta
titânica entre o velho que agoniza e o novo que surge.
Assim sendo, desta contradição fundamental, móvel da História,
contradição esta que não poderá desaparecer, pois é uma condição
objetiva e, como tal, está fora da nossa consciência, não depende de
nós, vêm aparecendo e desaparecendo movimentos e regimes, sem que
ninguém possa deter a marcha implacável do determinismo histórico.
Vários foram os regimes que desapareceram e deram lugar a outros que
possuíam naquele momento, condições reais mais favoráveis, mais
condizentes com a realidade estrutural em que se apoiavam. Vêm se
processando assim o desaparecimento e o aparecimento dos regimes pelos
quais a terra já passou: Comunal, Primitivo, Escravagista, Feudal,
Capitalista e Socialista. Com todos eles, aconteceu este mesmo processo,
e fatalmente acontecerá ao socialismo, embora mude um pouco a sua
maneira de ser.
Nota-se que todo esse "emaranhado" de transformações se faz sem que nós
possamos impedi-lo de acontecer. Será então uma força misteriosa,
divina, que rege isso? Não!
Sabemos que, quando as relações de produção e o caráter das forças
produtivas não mais se coadunam, completam-se, é inevitável tal
transformação. Não há sicrano nem beltrano que possam impedi-la!
Todos aqueles que durante sua época compreenderam, analisaram e tomaram
uma posição ao lado do novo regime que "invisivelmente" brotava das
carcomidas estruturas do velho regime, foram vilipendiados, e poucos
foram os que tiveram reconhecido seu lugar histórico naquele momento.
Então, todo o processo histórico obedece ao determinismo e o homem não
tem papel algum neste processo? Não, dizer semelhante aberração é o
mesmo que querer tapar o sol com uma peneira. O homem toma papel ativo e
decisivo nas questões sociais, mas isso só acontece quando as condições
materiais da sociedade (condição objetiva anteriormente citada)
despertam-no para a compreensão do processo histórico e de qual o seu
papel no mesmo. A isso, chamamos de condições subjetivas. O despertar da
consciência humana para os problemas sociais, para o problema de
milhões de explorados, é um sentimento que desencadeia em cada pessoa
uma série de transformações para melhor e uma acertada conduta de vida
pessoal.(...)
Depois deste pequeno delineamento do meu pensamento sobre as questões
sociais e que serve de depoimento e esclarecimento de minhas posições,
declaro-me marxista-leninista e membro do Partido Comunista do Brasil.”