segunda-feira, 16 de julho de 2012

Pedro Pomar: Grandes Êxitos da Revolução Cultural Proletária

Artigo publicado em 1968 no jornal A Classe Operária, órgão do Comitê Central do antigo Partido Comunista do Brasil.

As vitórias da Revolução Cultural Proletária na China constituem valioso alento à luta da classe operária e dos povos oprimidos por sua independência, pela democracia e o socialismo. Significam, ao mesmo tempo, contundente derrota para a coalizão mundial contra-revolucionária do imperialismo, da reação e do revisionismo contemporâneo.

Ao mobilizar massas de centenas de milhões, num movimento de envergadura sem precedente, a Revolução Cultural Proletária, em menos de dois anos, já se estendeu a toda a China e desbaratou a trama revisionista burguesa que visava a restauração do capitalismo. Seguindo a justa orientação do camarada Mao Tsetung, a esmagadora maioria do proletariado, dos camponeses, do Exército Popular de Libertação e dos quadros uniram-se estreitamente, reforçaram a ditadura do proletariado, puseram a superestrutura política e ideológica em melhor correspondência com a base econômica socialista e desenvolveram ainda mais a produção e a experimentação científica. A idéia de que cada cidadão deve interessar-se pelos problemas do Estado e a campanha para combater o egoísmo e criticar o revisionismo tomaram caráter concreto e adquiriram aspecto realmente de massas. Enfim, prossegue com pleno êxito o esforço para transformar toda instituição, fábrica, escola ou unidade militar, num centro de estudo e de aplicação criadora do marxismo-leninismo, o pensamento de Mao Tsetung, a invencível bandeira que guia o povo chinês na construção do socialismo e no apoio à revolução mundial.

Em face desse avanço triunfal e sentindo desmoronar-se o sonho de há muito acariciado de converter a China e o mundo em fáceis presas de sua cobiça e de seu domínio, os imperialistas e a chusma desprezível de canalhas da reação e dos revisionistas não se cansam de assacar as piores infâmias para denegrir a Revolução Cultural Proletária que se dão conta, como inimigos jurados dos povos, da importância de tal acontecimento para os destinos do socialismo e da Humanidade progressista.

Entre os falsificadores mais cínicos da Revolução Cultural acham-se os revisionistas contemporâneos. Compreende-se. A Revolução Cultural Proletária, com suas idéias e perspectivas, com suas formas e seus métodos, aguçou todos os problemas em litígio no movimento comunista internacional e contribuiu para revelar a repugnante traição dos revisionistas à causa da luta dos povos contra o imperialismo, sobretudo o norte-americano. Ela ajuda também a discernir os verdadeiros dos falsos marxistas-leninistas, a deslindar mais nitidamente as posições revolucionárias e as oportunistas e a desmascarar os dirigentes revisionistas, indicando às massas seus verdadeiros partidos e chefes proletários revolucionários.

Os filisteus revisionistas, em sua cruzada contra a Revolução Cultural, desempenham sem dúvida missões variadas. Os revisionistas soviéticos, por exemplo, que são os chefes, aparecem como os mais asquerosos e hipócritas. Já os revisionistas franceses fingem certa objetividade, sem esconder, porém, o pedantismo e o refinamento na intrujice. Ao passo que os revisionistas brasileiros, sem qualquer imaginação, copiam servilmente o que lhes dita a camarilha dirigente do PCUS.

No entanto, como prova de que o revisionismo é um fenômeno internacional e obedece a causas sociais bem definidas, todos os revisionistas conservam nos ataques à Revolução Cultural o mesmo signo: o temor das massas e o ódio à revolução, a apostasia ao marxismo-leninismo e a capitulação diante do imperialismo. Gritam, por isso, a uma voz, que a Revolução Cultural é uma insensatez contra o humanismo e a cultura, significa ação terrorista e liberticida, manifestação nacionalista e belicosa, expressão do culto à personalidade etc.

Mas, como fariseus, fazem insistentes apelos ao povo chinês, na "esperança" de que retorne ao "bom caminho" pela mão dos revisionistas. Ou, quem sabe, se estes apelos falharem, terão de fazê-lo "chegar à razão" através de bombas atômicas, que armazenam com finalidades humanísticas...

Todo esse clamor, porém, é inútil. A Revolução Cultural Proletária conduziu a Revolução Socialista Chinesa à uma fase mais profunda de seu desenvolvimento. Varre com a camarilha revisionista interna, desata as energias das massas revolucionárias para feitos ainda mais espetaculares. Em sua marcha progressista estimula ações mais vigorosas na luta libertadora de todos os povos. Ela é resultado inevitável da exacerbação da luta de classes na China e em todo o mundo. Embora apresente suas particularidades, constitui uma necessidade objetiva para consolidar o regime socialista em qualquer país. Por isso, tinha de projetar-se internacionalmente.

A Revolução Cultural Proletária, com as proporções que assumiu e por se realizar num país das dimensões da China, jamais poderia ser um ato arbitrário desta ou daquela personalidade, deste ou daquele grupo dirigente. Aí não cabem o voluntarismo nem o utopismo. São os revisionistas que, ao negar a luta de classes sob o socialismo, atribuem poderes sobrenaturais às personalidades e se opõem à ação revolucionária das massas, caindo portanto no voluntarismo. Os revisionistas, ao levantar tais aleivosias, o que procuram é defender seus comparsas revisionistas chineses.

É inteiramente justo que a Revolução Cultural repudie, através da crítica mais livre e mais ampla que já existiu em qualquer país, os portadores das idéias e costumes burgueses. Como movimento de massas real, com objetivos ideológicos e políticos definidos, a Revolução Cultural vai sendo revelada ainda melhor na própria prática revolucionária do povo chinês.

A missão mais difícil e, ao mesmo tempo, mais essencial, da ditadura do proletariado, depois de conquistado o Poder, não pode se limitar à tarefa das transformações puramente econômicas. Deve igualmente dedicar-se à realização das mudanças no domínio ideológico, que não se circunscreve apenas aos problemas de ordem literária, artística e educacional, técnica e científica. Por isto o camarada Mao Tsétung denominou a Revolução Cultural de grande revolução ideológica, que atinge o homem no que ele tem de mais entranhado, em sua alma, em sua concepção. Por conseguinte, também nada tem de estranho ou antimarxista que a Revolução Cultural ponha em prática, mediante a concepção cultural mais elevada, socialista, medidas para transformar os homens na sociedade chinesa de acordo com as exigências econômicas, políticas e sociais do proletariado e do socialismo.

Não é esse, por ventura, o papel da consciência socialista, da teoria marxista-leninista? Não é esse um dos objetivos do Partido Comunista? Os revisionistas não querem, nem podem compreender a questão teórica básica da Revolução Cultural Proletária: sua inevitabilidade sob o socialismo para satisfazer as exigências da base econômica e acelerar o avanço das forças produtivas sociais. São falsificadores contumazes e a verdade lhes é insuportável.

Na Revolução Cultural Proletária o problema do poder aparece como o problema essencial. Na Revolução Chinesa, desde há muito, vinham se confrontando duas linhas, dois caminhos a respeito da construção do socialismo Através de todo o processo da Revolução Chinesa, em todas as suas fases, a luta entre as duas linhas veio se configurando cada vez com maior nitidez.

Uma nega a possibilidade de edificar o socialismo em ritmos rápidos, sob a alegação do baixo nível das forças produtivas, do atraso técnico-material do país. Preconiza, em consequência, grandes concessões aos elementos capitalistas das cidades e do campo e propõe que seus interesses não sejam afetados por longo período. Deposita as maiores esperanças na ajuda exterior e não confia no esforço do próprio povo. Dá ênfase aos estímulos materiais e prioridade à economia sobre a política. Menospreza o papel da ditadura do proletariado, das novas relações de produção e das massas populares. Propaga a importância do estudo e da formação de quadros técnicos desligados da ideologia proletária. Favorece, por todos os meios, a difusão da cultura e dos hábitos burgueses. Visa, em suma, conduzir o Partido pelo caminho do retorno ao capitalismo, do restabelecimento do poder da burguesia, embora jure fidelidade aos princípios e objetivos socialistas proletários. Na realidade, é uma linha burguesa, reacionária. Seus propugnadores defendiam dentro do Partido, mesmo antes da vitória da revolução, em 1949, os interesses da burguesia. E como a vida se encarregou de mostrar, o maior expoente dessa linha não é outro senão o elemento que detém o mais alto posto no Estado, o agora proclamado Kruschov da China1.


1. Kruschov da China — como ficou conhecido Liu Shao shi — presidente da República Popular da China de 1959 a 1968 por ser partidário das idéias restauradoras do capitalismo.

A outra linha, formulada e aplicada pelo camarada Mao Tsetung, combate de há muito a conhecida teoria oportunista das "forças produtivas" e coloca a questão do socialismo nos seguintes termos:

"Que acontecerá se não estabelecermos a economia socialista? Nosso país converter-se-á num Estado burguês como a Iugoslávia e a ditadura do proletariado numa ditadura da burguesia, ditadura, além do mais, reacionária e fascista".

Entre as características da China, com centenas de milhões de habitantes — dizia o camarada Mao Tsetung — o que chocava era a pobreza. As coisas más, no entanto, podem tornar-se boas. Por exemplo, a pobreza impulsiona a mudança, a revolução. E quanto mais gente, mais debates, mais ardor. Por certo, a edificação socialista demandaria longo tempo, requereria apoiar-se mais nos próprios esforços do que na ajuda externa e usar um estilo de trabalho duro e de vida simples.

O grande problema era a educação dos camponeses. Sem a socialização da agricultura não haveria socialismo real e sólido. A ditadura do proletariado, com o objetivo de fortalecer a aliança com os camponeses e desenvolver a coletivização do campo, deveria sustentar-se ainda mais nos camponeses pobres, ganhar os médios e liquidar a economia dos camponeses ricos e o sistema de exploração individual nas áreas rurais. Seria preciso, ainda, transformar gradativamente a indústria, o artesanato e o comércio como partes integrantes da economia socialista.

Dessa forma, novas e melhores condições seriam criadas para a libertação das forças produtivas e o incremento da produção. E tendo em conta que, internamente, a contradição com a burguesia nacional não fora eliminada, nem podia sê-lo na primeira etapa da revolução, e que, externamente, se aguçava a contradição com o imperialismo norte-americano que ameaçava a China de opressão, impunha-se travar uma luta enérgica não só na frente econômica, mas principalmente no campo político e ideológico. A ditadura do proletariado tinha de ser, pois, revigorada e não debilitada, quer para fazer avançar a revolução, quer para possibilitar à China o cumprimento de seus deveres internacionalistas, em defesa do movimento comunista e da causa de todos os povos oprimidos que, em grande maioria, viviam e ainda vivem sob o jugo da reação e do imperialismo.

Dirigindo a Revolução Chinesa e lutando pela construção do socialismo na China, o camarada Mao Tsetung estudava a experiência da ditadura do proletariado também nos países socialistas, sobretudo na União Soviética. Depois da Iugoslávia, foi no país da Revolução de Outubro, que os revisionistas, mascarados de leninistas, ocupando pos tos na direção do Estado e do Partido, conseguiram usurpar o poder do proletariado e arrastar o glorioso país de Lênin e de Stálin de volta ao capitalismo.

O camarada Mao Tsetung, tirando lições dessa amarga experiência, formulou uma tese de largo alcance para os destinos do socialismo: as classes e a luta de classes, nas condições do socialismo, continuam a existir. Mao Tsetung afirmou que a questão de saber quem vencerá, se o socialismo ou o capitalismo, não havia sido definitivamente resolvida, nem mesmo nos países onde vencera a ditadura do proletariado. Na China, disse ele, "havia os que sonhavam restaurar o regime capitalista, travando a luta contra a classe operária em todas as frentes, inclusive a ideológica. Nesta luta, os revisionistas são seus melhores auxiliares. (...) Preconizam de fato não a linha socialista, mas a capitalista"

O camarada Mao Tsetung demonstrou que a luta de classes, a luta pela produção e pela experimentação científica são os três grandes movimentos revolucionários para a edificação de um país socialista. Através desses movimentos, os comunistas evitarão o burocratismo, eliminarão o revisionismo e o dogmatismo e garantirão a unidade das massas em torno da ditadura do proletariado. Se agirem de modo diverso, isto é, se deixarem de mobilizar as massas na direção indicada e perderem a vigilância, permitindo que o inimigo se infiltre nas fileiras do Partido, os comunistas não poderão obstar que, em alguns anos, ocorra uma contra-revolução para fazer com que o Estado mude de cor e o Partido se torne revisionista e mesmo fascista.

A linha proletária revolucionária sob a sábia direção de Mao Tsetung infligia pesadas derrotas à linha burguesa, oportunista. A China avançava, com passos cada vez mais firmes e ritmos impressionantes, pela senda das transformações socialistas a fim de superar seu atraso milenar, extinguir as lacras da opressão estrangeira e conquistar o nível de uma verdadeira cultura socialista. Obteve enormes êxitos no terreno da economia, ciência, técnica e da defesa nacional, que se modernizavam celeremente. Impulsionadas pelas novas relações de produção socialistas, as massas demonstraram enorme capacidade de sacrifício e ardente patriotismo e realizaram avanços que são exemplos para todos os povos que sofrem ainda a espoliação e a opressão do imperialismo e do capitalismo.

Como então explicar que tenham podido subsistir e, ademais, atuar, os representantes burgueses dentro do Partido e do aparelho estatal da ditadura do proletariado na China? É que os inimigos de classe jamais se resignam com a derrota. Após cada batalha política procuravam camuflar-se. Adotaram uma tática de duas caras sem fazer autocrítica. Mostravam-se partidários fervorosos do pensamento de Mao Tsetung e da linha proletária, mas agiam sorrateiramente contra sua orientação. Conseguiam, assim, iludir o Partido e as massas. Manifestavam-se, porém, a cada nova vicissitude do processo revolucionário, atacando novamente a linha do Partido e sua direção proletária.

Conforme ficou evidente pela experiência dos países revisionistas, a formação e a atividade de um estado-maior burguês no partido da classe operária é perfeitamente possível, enquanto houver classes e luta de classes. Este é o maior perigo que enfrenta o Partido, bem como a ditadura do proletariado. O X da questão é saber destruí-lo, tarefa difícil porque o inimigo procura apresentar-se disfarçado com a bandeira do marxismo-leninismo, jurando a major fidelidade aos princípios.

O método que sempre foi empregado para limpar as fileiras do Partido de tão indesejável companhia, foi o dos expurgos periódicos. Lênin e Stálin ensinavam que é impossível superar o oportunismo no Partido apenas por meio da luta ideológica. Nas condições da ditadura do proletariado, Lênin advertia que, sem manter a pureza ideológica do Partido, o sistema socialista não poderia sobreviver. Por isso, insistia que, com o apoio das massas, fosse periodicamente efetuada a depuração no Partido.

Um dos grandes ensinamentos da Revolução Cultural Proletária é que ela constituiu a melhor forma encontrada pelo estado-maior proletário, encabeçado pelo camarada Mao Tsetung, para liquidar os representantes da burguesia introduzidos no Partido, o estado-maior burguês. Apesar de que os revisionistas estivessem na direção do Partido e do Estado, na medida em que a luta de classes se agravava e pela sua própria dinâmica, eles foram obrigados a descobrir-se. Sem dúvida custou, mas tiveram finalmente de revelar-se. Isto ocorreu quando o movimento de educação socialista, sob os auspícios do camarada Mao Tsetung, em 1962, voltou o gume de sua investida contra os elementos burgueses infiltrados no Partido. Ante a iminência de perder suas posições, os revisionistas chineses resolveram oferecer desesperada resistência, sob a direção do Kruschov da China.

Quanto mais premente a tarefa do saneamento na esfera educacional, literária e artística para colocar a superestrutura política e ideológica em consonância com a base econômica socialista, e crescente avanço, tanto mais notória se mostrava a oposição dos elementos encastelados nesses setores e dos que os amparavam na cúpula do Partido. Era uma oposição que vinha atuando há algum tempo e destilava sutilmente seu veneno para preparar o terreno, e ganhar a opinião pública, contra a linha proletária e seus representantes. Suas críticas maléficas apareciam como conselhos de prudência e bom-senso. Aproveitavam todas as dificuldades temporárias para recriminar os movimentos das massas e reclamar modificações na linha geral do Partido e freios à Revolução Socialista. Havia chegado a sistematizar toda uma linha de classe, burguesa, contrária à linha socialista e organizaram uma conspiração para tomar o Poder no momento propício.

Com sua visão genial de revolucionário, o camarada Mao Tsetung compreendeu a necessidade de chamar as grandes massas em defesa do Poder proletário e para bombardear o quartel-general burguês que se entronizara no Partido, e desmascará-lo por completo. Pessoalmente tocou a rebate e lançou-se à luta contra os revisionistas burgueses.

A Revolução Cultural foi, portanto, resultado de um processo objetivo de agravamento da luta de classes, em que as linhas que se enfrentavam no começo — aparentemente em torno de problemas educacionais, literários e artísticos — expressavam de fato a luta pelo poder entre os dois estados-maiores dentro do Partido, o proletário, encabeçado pelo camarada Mao Tsetung, e o burguês, dirigido pelo Kruschov da China.

Por isso, a Circular do Comitê Central do PC da China, de 16 de maio de 1966, sobre o Informe Esquemático de Pengcheng assim caracterizou o grupo antipartido e anti-socialista:

"Os representantes burgueses que se infiltraram no Partido, no Governo, no Exército e nos diversos setores culturais são um grupo de revisionistas contra-revolucionários que se assenhorearão do poder e converterão a ditadura do proletariado em ditadura burguesa, tão logo se apresente a oportunidade. (...) Por exemplo, gente tipo Kruschov ainda se abriga a nosso lado".

A situação e a referência estavam claras. Quando as chamas da Revolução Cultural Proletária começaram a crepitar entre a juventude das escolas e entre as grandes massas através dos tadzibaos2 e dos debates, os inimigos principais do povo saíram de seus esconderijos para atacar o movimento que se iniciava impetuosamente. Utilizando os postos que ocupavam, reuniram todas as forças à sua disposição e atiraram-se a uma repressão feroz, sangrenta, de que só são capazes os revisionistas e fascistas no poder.

De forma que, ao ouvirmos os escudeiros revisionistas do liberalismo e da burguesia acusar as massas revolucionárias chinesas de empregar o terrorismo, não é tão difícil descobrir que visam, na realidade, a ocultar seus próprios crimes e justificá-los. O socialismo com liberdade que, hoje, os revisionistas apregoam não significa que o povo deva ter direito de livre manifestação nem o de lutar, a seu modo, contra as velhas classes exploradoras. Esta liberdade eles a querem suprimir por todos os meios, a ferro e fogo. Basta que qualquer operário soviético, ou de outro país revisionista se pronuncie contra a traição e os desmandos da camarilha governante, ou procure conhecer os pontos de vista dos verdadeiros marxistas-leninistas, para que seja submetida à prova a concepção de liberdade dos bandidos revisionistas. Será encarcerado ou internado num hospital de loucos.

A verdade é que a Revolução Cultural esteve a pique de ser estrangulada pelas medidas punitivas e terroristas do bando chefiado pelo Kruschov da China. Ainda aí, porém, mais uma vez, revelou-se o papel decisivo da vanguarda proletária, liderada pelo camarada Mao Tsetung. A histórica sessão plenária do Comitê Central do PC da China, de agosto de 1966, que aprovou a decisão sobre a Revolução Cultural Proletária, apoiou as massas e os quadros revolucionários em sua rebeldia e os orientou para que se empenhassem audazmente na crítica, na luta e no repúdio a todos os elementos que, nas instituições estatais, culturais e no Partido, fossem seguidores do caminho capitalista e se opusessem às transformações culturais e à política proletária. Era necessário apoiar a esquerda, ganhar o centro, combater e isolar a direita.

Encorajadas por essa famosa Resolução, as massas e os quadros revolucionários redobraram de entusiasmo em suas ações e romperam, intrepidamente, com as peias da reação revisionista burguesa. Como autênticos soldados do pensamento de Mao Tsetung, lançaram-se ao assalto dos baluartes da burguesia, expondo suas mazelas e a conspiração que tramava contra o povo e o socialismo.


2. Grandes cartazes feitos à mão, afixados nos muros durante a Grande Revolução Cultural Proletária. Eram avistados de longe e uma ótima forma de manifestação política, utilizada por estudantes, operários e camponeses para denunciar os elementos revisionistas infiltrados no Partido Comunista da China e no Estado.

Assim, delineada magistralmente no sentido teórico e político pelo camarada Mao Tsetung, e pessoalmente dirigida por ele e seu estado-maior proletário, a Revolução Cultural iria dar a conhecer todo o seu alcance e desincumbir-se de seus objetivos, no seu próprio curso e na medida dos obstáculos que tivesse a superar. As massas estavam prevenidas de que o inimigo ofereceria obstinada resistência, que os combates seriam duros e prolongados e haveria marchas e contramarchas. O único método comprovado e justo era o de confiar nas massas, respeitar sua iniciativa e mobilizá-las com destemor a fim de que elas se libertassem por si mesmas. Por que meios? Utilizando os debates amplos, elucidando as questões suscitadas, revelando as posições, aprendendo a discernir as contradições no seio do povo, das existentes entre o povo e os inimigos.

Muitas coisas novas surgiram na Revolução Cultural Proletária, já dizia a Resolução de Agosto de 1966, do Comitê Central do PC da China. Foram criados grupos, comitês e congressos de rebeldes proletários e revolucionários. Irrompeu a maravilhosa Guarda Vermelha, espantando fantasmas e monstros, causando o pânico entre os inimigos, mas enchendo de júbilo todos os partidários sinceros do socialismo. Em pouco tempo mobilizou e uniu milhões de jovens para defender as idéias proletárias e o pensamento de Mao Tsetung e levar adiante a Revolução Socialista.

Entretanto, foi a classe operária que, depois de mobilizada, passou a constituir a força dirigente da Revolução Cultural e a imprimir seu estilo ao grande movimento revolucionário das massas que estremece a China e o mundo. Em Janeiro de 1967, desencadeou-se a conhecida Tempestade de Xangai que deu nascimento ao primeiro Comitê Revolucionário e colocou o poder diretamente nas mãos das massas, de suas organizações rebeldes, surgidas no próprio fogo da Revolução Cultural. Era uma demonstração de que a luta pelo poder na China entrara em nova fase.

A divulgação do acontecimento despertou enorme entusiasmo e não tardou a aparecer a idéia de que os Comitês Revolucionários deviam ser organizados pela aliança das organizações de massa revolucionárias, do Exército Popular de Libertação e dos quadros revolucionários. Despontava, assim, a Tríplice Aliança, como nova forma política da ditadura do proletariado nas condições do socialismo. Na base da Tríplice Aliança se acham as organizações de massa revolucionárias. Sua coluna de sustentação é o Exército Popular de Libertação. E seu núcleo é constituído dos quadros revolucionários. Todos desfrutam da mais ampla confiança das massas.

Com a Tríplice Aliança, o novo poder proletário está mais próximo do povo, mais unido a ele do que nunca. As organizações revolucionárias, representantes genuínos dos operários, camponeses e intelectuais, das massas mais numerosas e humildes, elegem seus membros mais fiéis para participar dos Comitês Revolucionários. Procedem de igual modo os quadros revolucionários e o Exército Popular de Libertação.

É uma impostura dos inimigos da Revolução Cultural, em particular dos revisionistas, qualificar de manobra antipartido ou acoimar de militarismo a participação do Exército Popular de Libertação ao lado do movimento revolucionário das massas. Jamais houve um exército tão querido e ligado ao povo quanto o Exército Popular de Libertação da China. Constituído de trabalhadores, está dedicado ao serviço do povo e a defendê-lo de todos os seus inimigos internos e externos. Não se presta ao papel de opressor dos operários e camponeses, como os exércitos da burguesia e dos latifundiários. Autêntica instituição democrática, o Exército Popular de Libertação trabalha para manter-se e colabora na produção e na experimentação científica. Seus oficiais não gozam de privilégios. Nenhuma minoria ou qualquer grupo pode dele utilizar-se para satisfazer suas ambições de mando. Por isso, ele apóia as massas revolucionárias e é um esteio da Tríplice Aliança.

A formação desta Aliança e de seus Comitês Revolucionários permitiu que a imensa maioria afastasse do poder o pequeno grupo de elementos, que se julgava superior e privilegiado, simplesmente porque possuía o honroso título de membro do Partido. Tais elementos conspiravam para restaurar o poder da burguesia e restabelecer o capita lismo no país. E quando eclodiu a Revolução Cultural, tudo fizeram para afogá-la, recorrendo aos métodos mais ferozes de repressão e adotando os meios mais incríveis de solapamento e de divisão das lutas das massas. Depois de eleitos, os Comitês Revolucionários tomam a seu cargo as tarefas políticas, econômicas e administrativas. Sua missão principal consiste em empreender a revolução e promover a produção.

A Tríplice Aliança, como nova forma da ditadura do proletariado na China, representa uma conquista de enorme significação internacional. Como se sabe, a questão do poder estatal da ditadura do proletariado foi considerada uma das mais importantes, senão a mais importante da teoria revolucionária marxista-leninista. Em suas grandiosas batalhas contra a burguesia, o proletariado mundial conhecera a experiência imorredoura da Comuna de Paris, uma forma de Estado que, pela primeira vez na História, permitiu a participação direta e decisiva das massas no poder. Unia as funções legislativas às executivas e tornava acessível, aos trabalhadores mais simples, a direção do Estado.

Como resultado da experiência da Comuna de Paris, a doutrina do proletariado foi enriquecida com a lição de que a máquina do Estado deve ser destruída, com todos os seus apêndices, e, em seu lugar, erigida uma nova, a serviço da ditadura proletária. E veio para primeiro plano a questão teórica de que não basta somente tomar o poder, mas trata-se sobretudo de mantê-lo e consolidá-lo.

Quase meio século após a Comuna de Paris, triunfou a Revolução de Outubro, tendo o proletariado russo criado o Poder Soviético, continuador da Comuna, elevada forma de instituição estatal democrática da ditadura do proletariado, capaz de unir em seu redor as massas trabalhadoras e exploradas mais atrasadas e dispersas e de assegurar a transição para o socialismo.

O Poder Soviético, como órgão do poder da imensa maioria das massas antes oprimidas, contra a minoria opressora e como instrumento revolucionário para vencer a resistência de seus inimigos, cumpriu, durante um longo período, seu papel. Devido, porém, à traição dos revisionistas kruschovistas, o Poder Soviético perdeu seu conteúdo de classe e fez degenerar a ditadura burguesa.

A histórica iniciativa do proletariado e das massas chinesas enche de justificado júbilo as forças revolucionárias e marxistas-leninistas de todo o mundo. A Revolução Cultural forjou, com a Tríplice Aliança, uma forma estatal do Poder pela qual as massas exercem diretamente sua ditadura contra a resistência dos inimigos e podem, através do uso de efetivos direitos democráticos, elevar-se à condição de ativos e conscientes construtores de sua própria história.

Tudo isto comprova que o povo revolucionário da China, com idéias e armas proletárias, está aplicando, de modo consequente os ensinamentos do marxismo-leninismo. Rompe radicalmente com as idéias tradicionais, depois de ter rompido radicalmente com as formas de propriedade tradicionais. Essa obra de limpeza dos miasmas da velha sociedade, a fim de purificar a atmosfera da nova sociedade, apesar de não ser fácil, é vital para a causa do socialismo e do comunismo.
A imputação dos revisionistas de que a Revolução Cultural Proletária está em conflito com a cultura e o humanismo marxista-leninista significa rematada hipocrisia e dissimulada apologia do humanismo reacionário e da cultura decadente da burguesia. A ditadura do proletariado perderia sua razão de ser, se deixasse de privar alguns intelectuais burgueses da liberdade de envenenar a juventude com as idéias do individualismo, da exploração do homem pelo homem, da guerra imperialista, da falaciosa igualdade entre ricos e pobres.

A Revolução Cultural Proletária pretende levar a sociedade chinesa a consolidar o regime socialista e a preparar o advento do comunismo. Para alcançar estes objetivos ela se baseia nos conhecimentos acumulados pela humanidade ao longo de sua História e se orienta pelo pensamento de Mao Tsetung, que é a síntese atual desses conhecimentos. Por conseguinte, ela reflete a mais elevada expressão da cultura, da economia e da política a serviço das massas trabalhadoras. A técnica e a ciência, a arte e a literatura não ficarão nem por cima, nem à margem das classes, mas contribuirão para a extinção das classes, para edificar a sociedade sem classes, o comunismo.

Na China da Revolução Cultural se forma um homem novo, livre do egoísmo e dedicado ao bem-estar coletivo. O conceito humanitarista reacionário da burguesia e dos revisionistas é mendaz. O homem não poderá jamais libertar-se das forças alienantes que o manietam na sociedade capitalista, nem será capaz de seguir conscientemente seu próprio destino, se as grandes massas trabalhadoras, as reais criadoras da História, não conquistarem sua emancipação através da ditadura do proletariado. Marx explicou que a natureza humana é inseparável das relações sociais. E acrescentava que a humanidade só dará o salto do reino da necessidade para o da liberdade" quando for instaurada a sociedade comunista. Ou, como prediz o camarada Mao Tsetung:
Chegará a época do comunismo no mundo, ocasião em que a humanidade transformar-se-á a si mesma e transformará o mundo de maneira consciente.
A Revolução Cultural Proletária veio demonstrar a importância histórico-mundial do pensamento de Mao Tsetung, como o marxismo-leninismo de nosso tempo. O povo chinês, armado com o pensamento de Mao Tsetung, alcançará todos os seus nobres objetivos.

Foi o camarada Mao Tsetung que, aliando uma longa prática revolucionária a uma capacidade extraordinária de abstração e generalização, aprofundou o marxismo-leninismo no período em que o socialismo marcha inevitavelmente para o triunfo total e o imperialismo caminha para a bancarrota definitiva. Ele desenvolveu a dialética materialista, defendendo a teoria monista do materialismo e afirmando que a lei das contradições é a fundamental do método dialético.

Interpretando, de modo criador, a lei descoberta por Lênin sobre o desenvolvimento desigual do capitalismo, mostrou aos revolucionários dos países subjugados pelos imperialistas a possibilidade de levar a revolução à vitória, a partir das bases de apoio no campo e através da guerra popular revolucionária. Também esclareceu, de maneira acessível, o problema da interpenetração entre a superestrutura e a base econômica e contribuiu para desmascarar a teoria revisionista do incentivo material na construção do socialismo. Mostrou que o incentivo material corresponde à política burguesa, pois não existe economia pura, isolada ou acima da política. Partindo da idéia leninista de que a política é a economia concentrada, o camarada Mao Tsé-tung esclareceu que em qualquer processo social, a política vem em primeiro lugar e sempre se relaciona com o interesse desta ou daquela classe. Isto significa que, ou predomina a política burguesa, ou a proletária; vence o caminho capitalista ou o socialista. Não há meio termo.

O pensamento de Mao Tsetung restabeleceu brilhantemente e enriqueceu a teoria marxista-leninista da existência das classes e da luta de classes sob o socialismo. Indicou que a compreensão das classes só do ponto de vista econômico não era suficiente, sendo necessário considerá-las também do ponto de vista político e ideológico, e que não se deve entender nenhuma das formas de luta de classes separada das demais. Portanto, a liquidação econômica das classes tem de ser completada pela liquidação política e ideológica ‘que é a decisiva’.

Por todas essas circunstâncias, a China da Revolução Cultural Proletária e de Mao Tsetung transformou-se no centro da revolução mundial e no mais poderoso baluarte da luta contra o imperialismo. É a nação socialista que, diante do agressor norte-americano, sustenta uma política que consulta os interesses da imensa maioria da humanidade. Não teme suas ameaças e, simultaneamente, apóia sem vacilações a luta dos povos por sua independência nacional, pela democracia popular e o socialismo. Isto se comprova na ajuda desinteressada ao heróico povo vietnamita e na recusa a qualquer transação com os revisionistas soviéticos, que maquinam mil e uma formas de quebrar a impressionante e vitoriosa resistência do Vietnam à invasão norte-americana.

A revolução cultural reforça a consciência internacionalista do povo chinês no combate ao imperialismo norte-americano, o maior inimigo da humanidade, e na denúncia do revisionismo soviético. Da China nos vem, hoje, o chamamento vigoroso para a unidade e a luta intrépida e destemerosa dos povos contra a santa aliança do imperialismo, a reação e o revisionismo. A nação chinesa prepara-se para enfrentar, a qualquer momento, o ataque dessa santa aliança.

Sob a liderança sábia e provada do camarada Mao Tsetung, os trabalhadores e os povos unir-se-ão mais solidamente e alcançarão a vitória.

Os comunistas brasileiros, que receberam com entusiasmo os grandes êxitos da Revolução Cultural Proletária, procuram estudar seus ensinamentos e divulgar suas experiências. Ao mesmo tempo, erguem, cada vez mais alto, a bandeira vermelha do pensamento de Mao Tsetung, que descortina para nosso povo o caminho da revolução e da guerra revolucionária de libertação.


O último artigo de Manoel Lisboa

Publicado em agosto de 1973 na revista Luta Operária Nº 10, um mês antes de ser assassinado pelos milicos fascistas.

Existe, em muitos companheiros e também no seio do povo, medo do exército burguês.

Muitos acham impossível vencê-lo e veem o exército exatamente como a ditadura quer: como uma coisa que está acima de nós.
 
Companheiros, antes de tudo, devemos pensar direitinho no que é o exército burguês. Esse exército (da burguesia) defende os interesses dos capitalistas, defende a propriedade privada (dos capitalistas) e oprime o povo contra qualquer revolta, pois nada temos para ser defendido pelo exército (da burguesia); apesar de a gente sempre ouvir dizer que o exército é o defensor da nação, O QUE VEMOS DE VERDADE É O EXÉRCITO DEFENDER OS INTERESSES DOS RICOS PARASITAS CONTRA O POVO TRABALHADOR.

Os capitalistas usam os órgãos de propaganda (rádio, jornal, televisão) e empregam a educação (o ensino) para fazer o povo acreditar que o exército defende os interesses da nação e não dos capitalistas. Querem convencer o povo de que o exército é honesto e defensor da nação, e fazer todos respeitá-lo, senão quem iria morrer nas guerras pela burguesia? Por isto, desde criança aprendemos a respeitar o exército, a propriedade dos ricos, o presidente da República e demais autoridades burguesas.
 
O exército da burguesia está realmente forte no momento, mas isto não significa que ele nunca será derrubado. Pensar assim é não conhecer a força da nossa própria classe; é não entender que a nossa união é uma grande força para destruir a força repressiva da burguesia. Com a nossa união e organização, podemos colocar no lugar deste exército burguês, antipopular, antinacionalista e lacaio dos interesses estrangeiros, isto é, devemos colocar no lugar desta corja um exército formado pelos melhores companheiros das classes trabalhadoras. Este, sim, será um exército realmente popular porque formado por pessoas do povo, por pedreiros, carpinteiros, torneiros, soldadores, serventes, tecelões, estudantes, sapateiros, camponeses, comer-ciários, etc. Será um exército popular e revolucionário porque defenderá os verdadeiros interesses do povo e lutará por uma sociedade melhor, uma sociedade mais perfeita e mais justa, luta por uma sociedade socialista.

O mais importante para um exército vencer e dominar é contar com o apoio do povo. A propaganda não pode ocultar a verdade nua e crua das desigualdades sociais, o desemprego, os salários baixos, a injustiça e todos os males do capitalismo. Eis a principal questão: eles têm armas, dinheiro, soldados, MAS NÃO TÊM O POVO. E como este exército da burguesia não é amado pelo povo brasileiro, nós devemos formar nosso exército. Para destruirmos este exército, que é da burguesia, temos que formar o nosso próprio exército, o exército do proletariado.

E como formar o nosso exército?

Ora, já vimos que quando estamos fracos temos que usar formas de luta mais simples para nos fortalecer. É justamente isto que falta cada companheiro compreender para colocar em prática estas questões. Já temos os exemplos do povo russo, do povo chinês, do povo cubano e exemplos de muitos outros povos, que organizados derrubaram os exércitos burgueses que ós oprimiam. No Vietnã está o mais belo exemplo de como um povo atrasado (economicamente) derrotou o exército francês e está derrotando o exército mais poderoso do mundo capitalista, as forças armadas america-nas. E o que fizeram os vietnamitas? Lutaram, se organizaram e incenti-varam os outros a se organizar como nós, do Conselho de Luta, estamos fazendo. Saíram, de boca em boca, ensinando a verdade sob uma ditadura pior e mais sangrenta do que a nossa. Com grandes dificuldades (para aprender mais), publicavam jornais debaixo do pano, explicando, incentivando e ensinando o povo a se organizar.

O que devemos fazer?

Para formar nosso exército, dependemos unicamente do nosso esforço. Do esforço de cada um que já tem consciência, em ir organizando as massas (o povo desorganizado) e ir dando consciência aos que quase nada sabem a respeito da luta de classes, da nossa luta, e ir aumentando o número de pessoas para nossa organização, e assim iremos formando nosso Partido e daí iremos criando o nosso exército, com as pessoas conscientes de todos os setores da população, desde os companheiros operários, que serão os dirigentes da nossa luta, até os camponeses, os estudantes, funcionários públicos, pessoas politicamente boas que existam dentro das próprias forças armadas do inimigo, enfim de todas as camadas exploradas da população e que apoiam de verdade as nossas ideias e nossos métodos de luta. Temos que conscientizar as pessoas e trazê-las para nós; assim teremos condições de criar nosso exército.

Bom, companheiros, existem muitas formas de luta; o que estamos precisando é a decisão e firmeza dos companheiros para continuar os trabalhos de panfletagem que temos feito dentro das fábricas e nos bairros, desenvolver o trabalho político com outros companheiros e participar do trabalho teórico, que é escrever para os nosso jornais. Todas estas formas de luta têm a finalidade de esclarecer e organizar o povo para que ele pegue em armas de maneira consciente.

Só na luta aprendemos a confiar em nós mesmos, em nossa força, porque defendemos os verdadeiros interesses do povo e lutamos pela justiça. É isto que nos dá certeza da vitória da LUTA OPERÁRIA por meio do exército revolucionário do povo, contra o exército mercenário (vendido) da burguesia.

Todo esforço no trabalho de conscientizar o povo, todo esforço no trabalho de educar para a luta os melhores elementos das classes traba-lhadoras e trazê-los para o Conselho de Luta Operária. Todo esforço nos trabalhos que levam a formar um Partido Operário, pois o exercito revolucionário do povo, só obedecerá a um único comando que será o Partido Operário.

Só com coragem, decisão e firmeza é que se luta.
 
Só na luta é que se forma o Partido Comunista Revolucionário.
 
Só na luta se constrói o exército revolucionário do povo.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Manoel Lisboa: Declaro-me marxista-leninista

Escrito por Manoel Lisboa de Moura aos 21 anos de idade em agosto de 1965, quando foi preso pelos militares fascistas.

“Em todo o mundo, os povos oprimidos despertam para a sua libertação. O século XX tem sido clareado pelo relampejar das idéias novas na consciência das massas populares, determinando, desta forma, uma luta titânica entre o velho que agoniza e o novo que surge.

Assim sendo, desta contradição fundamental, móvel da História, contradição esta que não poderá desaparecer, pois é uma condição objetiva e, como tal, está fora da nossa consciência, não depende de nós, vêm aparecendo e desaparecendo movimentos e regimes, sem que ninguém possa deter a marcha implacável do determinismo histórico. Vários foram os regimes que desapareceram e deram lugar a outros que possuíam naquele momento, condições reais mais favoráveis, mais condizentes com a realidade estrutural em que se apoiavam. Vêm se processando assim o desaparecimento e o aparecimento dos regimes pelos quais a terra já passou: Comunal, Primitivo, Escravagista, Feudal, Capitalista e Socialista. Com todos eles, aconteceu este mesmo processo, e fatalmente acontecerá ao socialismo, embora mude um pouco a sua maneira de ser.

Nota-se que todo esse "emaranhado" de transformações se faz sem que nós possamos impedi-lo de acontecer. Será então uma força misteriosa, divina, que rege isso? Não!

Sabemos que, quando as relações de produção e o caráter das forças produtivas não mais se coadunam, completam-se, é inevitável tal transformação. Não há sicrano nem beltrano que possam impedi-la!

Todos aqueles que durante sua época compreenderam, analisaram e tomaram uma posição ao lado do novo regime que "invisivelmente" brotava das carcomidas estruturas do velho regime, foram vilipendiados, e poucos foram os que tiveram reconhecido seu lugar histórico naquele momento.

Então, todo o processo histórico obedece ao determinismo e o homem não tem papel algum neste processo? Não, dizer semelhante aberração é o mesmo que querer tapar o sol com uma peneira. O homem toma papel ativo e decisivo nas questões sociais, mas isso só acontece quando as condições materiais da sociedade (condição objetiva anteriormente citada) despertam-no para a compreensão do processo histórico e de qual o seu papel no mesmo. A isso, chamamos de condições subjetivas. O despertar da consciência humana para os problemas sociais, para o problema de milhões de explorados, é um sentimento que desencadeia em cada pessoa uma série de transformações para melhor e uma acertada conduta de vida pessoal.(...)

Depois deste pequeno delineamento do meu pensamento sobre as questões sociais e que serve de depoimento e esclarecimento de minhas posições, declaro-me marxista-leninista e membro do Partido Comunista do Brasil.”

Manoel Lisboa: Carta de 12 pontos aos comunistas universitários

Documento escrito em 1966 quando Manoel Lisboa e outros membros do PCdoB rompem com aquele partido e começam o processo de formação do Partido Comunista Revolucionário, que mateve-se ativo até o final dos anos 70.

1. A contradição principal que se manifesta em nossa sociedade é aquela entre o imperialismo norte-americana e nosso povo. A natureza agressiva do imperialismo exige uma constante aplicação de sua política de dominação e exploração. em virtude desse fato, o imperialismo ianque dirigiu e executou por intermédio dos militares reacionários, os gorilas, o golpe de 1º de abril de i964. Estabeleceu uma ditadura militar apoiada internamente na burguesia nacional e nos latifundiários. A burguesia nacional constituída em sua maioria de pequenos e médios industriais e comerciantes, por temor ao proletariado e ao movimento de massas, se alia ao imperialismo ianque, como ocorreu no período que antecedeu ao golpe. Porém, passa a hostilizar o imperialismo e seus agentes internos, quando estes praticam uma política que lhes é prejudicial, como ocorre atualmente. Contudo, ainda mesmo os seus elementos mais progressistas não conseguem formular e levar à prática uma luta conseqüente contra o imperialismo e o latifúndio, que se constituem em obstáculos a sua expansão como classe. a burguesia nacional em nossa pátria, como as burguesias nacionais do mundo subdesenvolvido, é incapaz de dirigir e realizar a luta contra o imperialismo e o latifúndio e capitula diante dessas forças.

2. A classe operária, os camponeses, os estudantes e intelectuais revolucionários constituem as massas fundamentais para a revolução, isto é, aquelas que exigem de fato a derruba da ditadura militar, a expulsão do imperialismo norte-americano e a eliminação como classe da alta burguesia nacional e do latifúndio. o dever dos marxistas-leninistas e revolucionários esta em despertar as massas fundamentais para a luta contra a ditadura militar, mobiliza-las e guia-las de forma conseqüente. Isto somente será possível através de um genuíno partido do proletariado, produto da luta de classes e identificado com as lutas libertárias de nosso povo. Um partido com a firme determinação de conduzir as lutas do povo brasileiro até o fim quando for extirpado definitivamente do seio da sociedade brasileira a exploração do homem pelo homem.

3. Sobre o Partido do Proletariado recai a responsabilidade de uma correta análise das classes sociais em nosso país, de definir qual a contradição principal de nossa sociedade e de precisar onde ela se manifesta de forma mais aguda. A partir dai deve elaborar a estratégia revolucionaria, definir claramente quais os amigos e quais os inimigos e também os métodos de luta adequados à estratégia.

4. Onde se manifesta de modo mais agudo a contradição entre o imperialismo norte-americano e nosso povo? Nossa resposta é o Nordeste. Região com mais de 20 milhões de habitantes tem sido fonte de matérias-primas e produtos agrícolas para o sul do país e para o exterior. em compensação quase todos os produtos manufaturados que consome importa do sul do país, onde se encontram de fato os grandes grupos econômicos, notadamente os da alta burguesia nacional e do imperialismo norte-americano. nessas condições o Nordeste é a região mais explorada do pais e o seu desenvolvimento teria como conseqüência a perda de um mercado e de uma fonte de matérias-primas para os referidos grupos econômicos. além disso uma classe dominante de latifundiários e usineiros controla a principal atividade econômica do nordeste, a deficitária indústria do açúcar, cujos prejuízos descarregam sobre a imensa massa de assalariados agrícolas que exploram.

5. Por isso o Partido da Classe Operaria deve elaborar sua estratégia e aplica-la onde se reflete de modo mais agudo a contradição principal. Ai desenvolver, com profundidade, a Aliança Operária-Camponesa, através do deslocamento para o campo dos elementos mais avançados da classe operária, dos intelectuais e estudantes com ideologia do proletariado para criar as bases de apoio rurais. O cerne da estratégia do proletariado e de seu Partido é e o desenvolvimento da guerra popular através da guerra de guerrilhas. a guerra de guerrilhas, através das formas primitivas e rudimentares de combate, proporciona as massas organizadas na base de apoio um método de luta, e possibilita que cada elemento de massa se converta num soldado soldado da guerra popular. Além disso, a história de nossas lutas libertárias demonstra cabalmente que a guerra de guerrilhas foi o método de luta que nosso povo sempre utilizou para derrotar os opressores. Dessa forma é o próprio desenvolvimento da guerra, que é a forma superior de expressão da luta de classes, que dará origem a outras bases de apoio rurais, que fará crescer as forças armadas populares e inclusive, também, o próprio p Partido do Proletariado. Assim, surgirão bases de apoioem todo o Nordeste como também em todos os pontos do interior de nossa pátria onde as condições sejam favoráveis. Nas cidades e particularmente nas grandes

6. Do ponto de vista tático o campo é mais importante do que a cidade para os revolucionários, porque o aparelho de repressão do inimigo é mais débil nas áreas rurais e tem dificuldades de nelas penetrar. Nessas condições, observando o princípio de superioridade relativa de concentrar contra o inimigo forças duas ou três vezes maiores em todas as ações concretas, é possível através da guerra popular derrotar por partes os ?gorilas?. por isso a guerra popular também é prolongada. Prolongada por que no inicio da luta o inimigo é taticamente forte e as forças populares são débeis. Somente é a guerra que pode inverter os papeis tornando o inimigo débil e as forças armadas populares fortes. Essa mudança acarreta o controle de amplas zonas rurais pelas forças armadas populares dando em conseqüências o ?cerco da cidade pelo campo?, compreendendo cidade onde o inimigo é ainda taticamente forte, pois ai localiza-se seus quartéis e bases. Nas atuais circunstâncias, dentro de um ponto de vista regional as grandes cidades e capitais do Nordeste são ?cidade? enquanto que o resto é ?campo?. De um ponto de vista nacional, a área industrial de São Paulo, compreendendo as cidades satélites do ABC, Santos e Rio de Janeiro formam o conjunto que podemos chamar de ?cidade?, sendo o restante ?campo?.

7. O caráter prolongado da guerra popular e a aliança operário-camponesa, imprescindível para o seu desenvolvimento, constituem a garantia de que a hegemonias do processo revolucionário permaneça nas mãos do proletariado e seu Partido. Essa é o grande significado político da guerra popular.

8. Sobre o segundo tipo de aliança, ou mais precisamente a frente única com a burguesia nacional, autenticamente nacional, submetida também ao imperialismo ianque, a condição básica para sua efetivação é a formação das forças armadas populares através do próprio desenvolvimento da guerra popular. E seria erro grave e ilusão de classe supor que a aliança se faça antes do início da insurreição armada, a base de conversão ou troca de pontos de vista.. Nessa questão, o fundamento é o proletariado realizar a frente único quando tiver a suas próprias forças armadas, independentes e dirigidas pelo seu Partido, garantia de que a luta contra o imperialismo e o latifúndio irá até o fim, isenta de vacilações ou capitulações próprias da burguesia nacional.

9. Nesse ponto cabe assinalar a maneira contra-revolucionária de compreender a frente única que os revisionistas modernos aplicam em nosso país. Vista a questão em profundidade negam ao proletariado e seu partido a capacidade de derrotar o imperialismo e seus lacaios e colocam na mão da burguesia nacional essa tarefa. Por isso, se colocam a reboque da burguesia nacional e adotam a luta eleitoral como principal e única. Quando esta é negada totalmente, passam a aconselhar o proletariado que nada há por fazer, que é necessário esperar, etc. è claro que, na situação de ditadura militar vigente em nossa Pátria, os que usam o nome de comunistas marxistas-leninistas para seguir a política da contra-revolução a reboque da burguesia nacional, para infundir o medo no espírito das massas, desarma-las ideologicamente, prestando assim o melhor dos serviços ao imperialismo ianque, não passam de vis traidores da Pátria e do povo.

10. Além do oportunismo de direita, o proletariado e seu Partido devem dar combate, sem trégua, ao oportunismo de ?esquerda?, que isola os revolucionários, levando-os a ações aventureiras. Em realidade, os oportunistas de ?esquerda? ao fazer propostas impossíveis de serem concretizadas temem a revolução e tanto quanto os revisionistas também não a desejam. Não conseguem compreender o duplo caráter da burguesia nacional e a questão de isolar os inimigos principais, aniquilando-os sempre por partes. Ao contrário, se isolam e se lançam a ações aventureiras porque desprezam taticamente o inimigo e pretendem derrota-lo de uma só vez.

11. Os revolucionários e marxistas-leninistas tem como ponto de honra para suas atividades se apoiarem nos seus próprios esforços. Em nossa Pátria o desenvolvimento de uma autentica revolução exige que ela surja como exigência das forças internas do país. Revolução não se importa e nem se exporta. O auxílio que os países que já se libertaram do imperialismo ianque possa nos dar deve ter um caráter essencialmente político. O principal, o mais importante é que a revolução exige que ela surja como exigência das forças internas. Alias, a aplicação desse princípio é o requisito básico para que a guerra popular venha se processar.

12. A maior prova que o marxista-leninista e revolucionário pode dar de internacionalismo proletário é fazer a revolução em seu pais. Desenvolver a guerra popular, derrubar a ditadura, expulsar o imperialismo ianque e eliminar a alta burguesia nacional e o latifúndio como classes são objetivos de um verdadeiro internacionalista proletário em nossa Pátria, que conquistando o Poder, estabelecendo um Governo Revolucionário dará uma importante contribuição revolucionária aos povos. De um ponto de vista internacional a contradição principal do mundo contemporâneo é a mesma que se verifica em nossa Pátria, isto é, aquela que se manifesta entre os povos da Ásia, África e América Latina e o imperialismo ianque. Isto acontece devido à natureza agressiva do imperialismo norte-americano, que se manifesta de diversas formas, desde os ?inocentes? acordos culturais, os leoninos acordos econômicos e dumpings , as intervenções diplomáticas, a preparação e execução de golpes de Estado, até a sua forma superior de exteriorização que é a intervenção armada e a guerra. Atualmente, o imperialismo ianque leva à pratica a mais cruel guerra de agressão que a humanidade já teve conhecimento no Vietnã, sendo o sudoeste asiático o centro de gravidade de sua estratégia contra-revolucionaria. Tendo em vista essa sua política, imposta por sua natureza agressiva o imperialismo ?limpa terreno? na Ásia, África e América Latina e substitui através de intervenções armadas e golpes de Estado os governos dos políticos progressistas das respectivas burguesias nacionais por militares títeres do Pentagono e que apóiam as aventuras guerreiras do imperialismo e lhe dão cobertura com recursos materiais de toda a espécie e tropas, como faz, por exemplo, a ditadura militar dos ?gorilas? chefiados por Castelo branco ao enviar tropas e recursos smateriais para São Domingos insto, no entanto, demonstra que o imperialismo é estrategicamente débil, que historicamente esta derrotado e que os povos do mundo irão vence-lo. Nosso povo não será excessão a essa regra e um dia através da guerra popular e prolongada alcançará a vitória final sobre o imperialismo ianque e seus lacaios.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Manoel Lisboa: Vencer as torturas é dever de todo o revolucionário

Artigo publicado em 1972 na revista  Luta Ideológica, órgão do antigo Partido Comunista Revolucionário.

A ditadura militar brasileira necessita do terror policial como o peixe necessita da água. Ela surgiu no nosso cenário histórico, justamente para impor o terror. Era preciso proteger os interesses do capital estrangeiro, da alta-burguesia nacional e dos latifundiários, ameaçados pela relativa liberdade existente no governo João Goulart. Tal liberdade facilitava o esclarecimento e a organização do povo pelas forças revolucionárias. Esse esclarecimento e essa organização desembocariam, mais cedo ou mais tarde, numa rebelião total contra a dominação imperialista em nosso país. Para esmagá-la no nascedouro, a Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos revolveu o museu de nossa história, lá encontrando os agentes indicados, os generais mais fascistas, mais fiéis aos monopólios norte-americanos e seus aliados nacionais.

Para cumprir sua missão, sabiam e sabem os generais, era indispensável prolongar a secular miséria de nosso povo, desde que a melhoria das condições de vida do mesmo é incompatível com a dominação de nossa economia pelos monopólios estrangeiros e a estrutura agrária, em que predomina o latifúndio. Sabiam e sabem os generais que sua missão se constituía na mais vergonhosa traição, no mais terrível crime contra o povo. No entanto, aceitaram, e cumprem com perfeição o papel de fiéis lacaios do imperialismo ianque. Para eles, nada mais honroso que os dólares recebidos e os elogios de Nixon ao "milagre brasileiro".

Da noite para o dia, o Brasil se transformou no reino do capital estrangeiro. Empresas ianques, alemãs, japonesas, inglesas, francesas, etc. investem no Brasil, pois aqui está garantida a expansão dos seus lucros. Os generais brasileiros, chibata em punho, protegem o capital estrangeiro contra os "altos salários", as greves e outros atropelos, mesmo que isso resulte em mais fome, mais desemprego, mais doenças para os trabalhadores.

Para ocultar seus crimes contra o povo, os militares montaram a mais poderosa máquina de propaganda da história brasileira. A cada instante, ela vomita mentiras e procura explorar cinicamente o amor das massas pelos esportes e pelas festas. Tudo isso, para impedir que o povo compreenda a causa real de seus sofrimentos; no entanto, por maior que seja a propaganda, sabem os generais ser impossível esconder indefinidamente a verdade. É absurdo tentar convencer um homem a amar "uma pátria" que lhe mata de fome. Faça o que fizerem os generais, jamais conseguirão transformar o povo num rebanho de mansos carneiros dispostos ao sacrifício.

O povo brasileiro, estes milhões de explorados, nunca esteve satisfeito com sua miséria. Resta-lhe apenas entender claramente quem são os responsáveis por essa miséria. É aí onde reside o imenso papel da vanguarda revolucionária. Essa vanguarda é o destacamento organizado, consciente, da classe operária. Sua missão histórica consiste em ligar-se às massas oprimidas e dirigi-las para a conquista do poder. Sem a ação da vanguarda, sem a direção de um Partido Comunista Revolucionário, a revolta do povo será sempre cega e inconseqüente.

Compreendendo a importância da vanguarda no processo revolucionário, a ditadura militar, assistida e apoiada pelos patrões ianques, resolveu aniquilar todos os grupos que atuam como vanguarda. Além das prisões em massa, os carrascos da ditadura torturam e matam todos aqueles que não aceitam sua dominação e lutam contra ela. A ordem é esmagar totalmente as forças revolucionárias, para impedir seu trabalho de esclarecimento junto ao povo. Nessa tentativa, os militares têm uma arma poderosíssima, considerada, inclusive, por muitos "revolucionários" como infalível: A TORTURA, física e psicológica.

Graças à tortura, os militares conseguiram grandes vitórias no seu intento de aniquilar as forças revolucionárias. Grande parte dos grupos revolucionários foi profundamente atingida pela repressão, causando o desbaratamento de suas organizações e gerando profundo ceticismo quanto às possibilidades de enfrentar vitoriosamente a ditadura. É que uma parte bastante significativa dos revolucionários presos não conseguiu comportar-se com firmeza diante dos torturadores, delatando seus companheiros e abrindo para a polícia os esquemas revolucionários.

Aliada ao liberalismo em questões de segurança, a DELAÇÃO tem sido a causa principal dos profundos golpes que ameaçam destruir totalmente grande parte dos grupos revolucionários brasileiros. Por que a delação? Por dois motivos:

1º - pela falta de maior preparação ideológica dos militantes presos;

2º - pela tese oportunista, bastante difundida em alguns grupos, de que "existe um ponto máximo, além do qual ninguém pode resistir às torturas".

Consideramos de importância capital, afastar a delação como regra do comportamento revolucionário ante as torturas. Caso contrário, assinaremos o atestado de óbito do movimento revolucionário brasileiro, desde que a ditadura jamais abandonará as torturas e conseqüentemente o processo de desbaratamento das forças revolucionárias conduzirá à sua total destruição e desmoralização.

É inadiável adquirir uma postura correta diante de todas as armas utilizadas pelo fascismo. Nossa prática tem confirmado que o militante revolucionário tem obrigação de não delatar, de nada informar aos carrascos policiais, que possa ajudá-los a golpear a revolução. Para tanto, é essencial que o militante esteja armado com uma compreensão científica da revolução, com a convicção de seu papel de instrumento consciente de um processo inevitável, o que lhe dará a certeza de que a delação, a traição, é um mal muito maior que a morte. O revolucionário consciente é capaz de vencer qualquer obstáculo; não há "ponto máximo" de tortura capaz de quebrar sua dignidade de combatente da mais justa das causas - a libertação do homem. Marx afirma que a teoria se transforma em força material quando se apossa das massas. A teoria revolucionária também se transforma em poderosa força material quando se apossa do combatente da causa proletária, uma força tão potente que faz tremer, ante um homem indefeso, as feras do fascismo sedentas de sangue.

A causa revolucionária gera nos seus militantes uma resistência que termina apenas com a morte. Devemos e podemos resistir a qualquer tortura. O movimento revolucionário está cheio de exemplos que comprovam nossa tese. A opinião oportunista a respeito "do ponto máximo" é um contrabando ideológico trazido para o seio do movimento revolucionário pela pequena-burguesia, historicamente vacilante e covarde. Devemos repeli-la, juntamente com todos os vícios pequeno-burgueses como o liberalismo, o amoralismo e outros que tanto têm contribuído para o enfraquecimento da revolução brasileira.

Nossa grande tarefa histórica, no momento, é forjar um Partido Revolucionário da Classe Operária, um destacamento consciente, organizado, de vanguarda, capaz de se ligar ao povo e conduzi-lo para a libertação definitiva. Para cumpri-la, temos de ser "homens de uma têmpera especial", incapazes de se dobrar diante do látego, sejam quais forem às circunstâncias, incapazes de delatar, trair. Se assim agirmos, dentro de algum tempo, a ditadura fascista demonstrará como é frágil sua estrutura ante o povo organizado, rebelado, decidido a construir de vez o caminho da felicidade.

Que, sejam quais forem as condições, fique gravado no espírito de cada um que DELAÇÃO É TRAIÇÃO; que ao homem digno, honesto, nada é mais terrível que servir ao "lobo com rosto de homem", o capitalismo e seus lacaios fascistas. Para eles, somente nosso ódio, nossa certeza inquebrantável no amanhã livre, todas as nossas energias e, se preciso, a última gota de nosso sangue para que nasça o amanhã.